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8 de maio de 2012

Estádios da Copa da África são usados hoje para casamentos e funerais


De Adriana Bittar,correspondente da Record na África

Que tal se casar num Estádio de futebol?
É isso mesmo que você leu! Aqui na África do Sul a idéia está virando moda.

Não porque estádios sejam os melhores locais do mundo para se trocar alianças, mas sim porque sobra espaço e falta público.
Quando se fala em pagar as contas do que restou da Copa de 2010, os administradores precisam mesmo ser bastante criativos.
Até velórios já foram realizados em locais feitos (inicialmente) para receber partidas de futebol.
E isso não é boato não.
O próprio administrador do Estádio Mbombela, na cidadezinha de Nelspruit me confirmou a informaçao.
E olha, sem nenhum constrangimento. Segundo ele, este tipo de evento é de baixo custo e qualquer dinheirinho é bem-vindo nessa altura do campeonato.
Espere aí, que campeonato?!
Está certo, o sul-africano gosta, e muito, de futebol, mas não troca o sofá pela arquibancada.
Aqui, estádios só ficam lotados em dias de clássico. Para se ter uma idéia a média de público, nos jogos da primeira divisão, é de 7 mil pessoas.
Então, me diga, se num Estádio, construído especialmente para o mundial, cabem 40, 50, 60 mil pessoas, o que fazer com tantos assentos vazios?
Jogo duro.
O Mbombela tem 43.589 lugares.
Pra quê?
Se nem a cidade, nem a Província onde ele fica tem sequer um time de rugby ou de futebol na primeira divisão...
Ou seja, um desperdício.
A África do Sul usou dez Estádios para sediar a Copa.
Cinco foram erguidos do zero, quatro reformados e o Soccer City reconstruído praticamente em 90%.
E como não existe milagre, o equivalente a 1bilhão e 200 milhões de reais tiveram de sair dos cofres públicos.
Muito pra um País que ainda não conseguiu solucionar problemas básicos e de longa data, como violência, altíssima taxa de desemprego, saúde pública ineficiente e uma epidemia de AIDS/HIV que choca o mundo pelas estatísticas.
Recentemente conversei com um renomado economista sul-africano,Mike Schussler, um especialista em grandes eventos.
E acho que nós dois jogamos no mesmo time, pois para ele, o dinheiro usado na Copa poderia ter sido usado de uma melhor forma, como construção de casas e contratação de enfermeiras.
Na ocasião ele disse algo que marcou: "temos muitos Estádios, mas ainda temos escolas sem cadeiras e sem livros." Forte, não é?
Eu não sou contra uma Copa do Mundo.
Muito pelo contrário.
Acho que um evento desse porte também tem muitos aspectos positivos: pode trazer investidores estrangeiros, aquecer a economia, colocar o Brasil no mapa.
Eu só não acho que - futebol, futebol, futebol - tem que ser a prioridade quando muita gente dorme de barriga vazia.
Segundo o economista, infelizmente, uma Copa do Mundo não beneficia gente pobre. Pela experiência sul-africana, eles recebem apenas migalhas durante quinze dias.
No ano passado visitei uma favela que fica a alguns quilômetros do Soccer City, o Estádio símbolo do mundial de 2010. O Soccer City é uma beleza, um monumento arquitetônico. Custou nada menos que 700 milhões de reais. E isso torna a realidade ainda mais cruel.
Na favela de Kliptown dezenas de famílias dividem uma única torneira, que obviamente fica numa área aberta, em plena calçada.
A água que sai dali é a que eles usam para tudo. Tudo mesmo: beber, lavar roupa, tomar banho. Você acha possível? Eu não acho!
Os banheiros químicos, colocados pela prefeitura, ficam no meio da rua.
Ou seja: privacidade zero.
Mas isso nem é o mais grave pra esse povo sofrido, que não viu um centavo do dinheiro "investido" na Copa.
Lá, conheci Nelly, uma jovem de 27 anos, desempregada há seis.
A definição dela para o significado da Copa do Mundo é algo que sempre vem à minha cabeça, quando se toca nesse tema.
Segundo as palavras dessa moça simples, a Copa do Mundo é um piscar de olhos.
Num momento está aqui; no outro não está mais.
Alguns representantes de Estádios sul-africanos insistem em dizer que o local proporciona lazer para a população ao redor.
Como?
Se quem não tem dinheiro para comprar pão e leite, não vai comprar ingressos de futebol.
Eu sou obrigada a admitir: os Estádios da Copa da África são mesmo lindos, verdadeiros cartões-postais. Mas como já dizia minha vó, beleza não põe mesa.
O fato é que muitos estão subaproveitados.
O Green Point, na Cidade do Cabo, por exemplo quase foi demolido.
Esse daí é um problemão que restou dos dias de glória.
Foi o Estádio mais caro do Mundial, com um custo aproximado de 1 bilhão de reais.
O detalhe é que a cidade já tinha dois Estádios.
Segundo jornalistas esportivos daqui, a FIFA exigiu que um terceiro fosse construído, sob a ameaça de tirar os jogos do município.
É muita pressão.
E como o governo não tem Know-how para tocar esses gigantes, a melhor solução foi entregar seis deles para a administração privada.
Uma empresa chegou a assumir o Green Point, mas quando viu o tamanho do buraco, desfez o negócio e devolveu o Estádio.
O governo até hoje está à procura de um arrendatário.
Quem se habilita?
O custo de manutenção dos quatro estádios que estao nas mãos do poder público é uma fortuna.
Mas como aqui, nada que venha do governo é transparente, não existe nenhum dado oficial.
O problema é que a população ainda vive o sonho de ter sediado a primeira Copa do continente africano e talvez por isso, não tenha caído a ficha de que é o contribuinte que paga a conta, através dos impostos.
Dos dez palcos do Mundial, a única história de sucesso é a do Soccer City.
A empresa que administra o local encontrou uma solução: menos futebol, mais eventos.
O Soccer City, atualmente é o queridinho dos artistas internacionais para shows.
Além disso, recebe as maiores feiras do País.
A fórmulla é criticada por muitos, mas pelo menos é um modelo de como terminar o mês no azul.
A Copa da África foi um sucesso?
Sob alguns aspectos, acredito que sim.
Sob outros, não tenho tanta certeza.
Acho que o sucesso de um evento desse porte se mede pelo legado.
O que restou?
Quantos empregos fixos foram gerados?
As crianças estão indo pra escola?
Tem mais polícia na rua?
Melhorou a vida do cidadão comum?
A economia cresceu?
Afinal, depois de qualquer festa, os convidados vão embora.
Mas o dono da casa fica..
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        Muito se comenta sobre o legado que a copa pode gerar aos brasileiros....não querendo comparar tudo com a África,mas até hoje o país é castigado por baixar a cabeça tanto para a Fifa.....o Brasil segue no mesmo caminho....em nossa cidade por exemplo,estamos a praticamente 2 anos da Copa que tem previsão para começar Junho de 2014,onde está o BRT,o transporte coletivo mudou algo,o aeroporto Eduardo Gomes tem previsão de uma reforma,o que se pode falar de mobilidade Urbana na cidade....Cuidado Manaus você pode ser a Próxima África

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