Os requerimentos foram motivados pelos crimes cometidos por grileiros e madeireiros que pretendem expulsar os posseiros, lavradores, ribeirinhos e extrativistas dos lotes de terras públicas, como as várzeas, ou áreas griladas. Lavradores e suas famílias são retirados à força das suas casas, queimadas junto com as plantações; animais sou roubados pelos jagunços que ameaçam, agridem e matam os que se opõem aos grileiros e denunciam a ação dos madeireiros. O desmatamento ocorre sem qualquer fiscalização ou punição pelo poder público. Quem denuncia corre o risco de ser morto. Desde 2007, sete pessoas foram mortas por denunciarem os crimes ambientais e de propriedade da terra no município de Lábrea, no sul do Amazonas.
Denúncias – Na Câmara dos Deputados, os crimes foram relatados aos deputados federais Janete Capiberibe e Domingos Dutra, presidente da Comissão de Direitos Humanos, com quem um grupo de lideranças se reuniu, além de Sibá Machado e Francisco Praciano. “Nós não queremos nada de ninguém, nós só queremos nosso direito de viver na nossa terra cuidando da floresta, de onde tiramos nossa sobrevivência”, afirmou Everaldo de Melo, presidente da associação dos trabalhadores do Seringal Macapá, no município de Boca do Acre – AM.
Ele está receoso com a integridade da sua vida e da sua família depois que voltar à comunidade onde mora. “Quem assume um posto de liderança e começa a falar fica visado, é ameaçado, corre o risco de morrer. Já me procuraram na minha casa, mas, graças a Deus, como sou extrativista, eu tava na floresta, trabalhando. Iam fazer o serviço”, contou, referindo-se às ameaças de morte que já recebeu.
Eles lamentam que o Sul da Amazônia seja considerado prioridade pelos órgãos do Governo Federal apenas no discurso e que as ações se limitem aos benefícios, como bolsa verde e bolsa floresta, e não ocorra a titulação definitiva dos lotes.
Assassinato – O último crime foi contra a trabalhadora Dinhana Nink, assassinada na frente de filho de seis anos, dia 30 de março, em Rondônia, onde buscava refúgio. Antes, ela registrara Boletim de Ocorrência na delegacia de Extrema (Rondônia), dando nome e sobrenome das pessoas que lhe agrediram fisicamente, incendiaram sua casa e lhe ameaçaram de morte. Uma sequencia comum para intimidar os que denunciam os crimes contra os direitos humanos e os crimes ambientais e para desalojar os que tentam resistir na terra num lugar onde o estado brasileiro inexiste. Um mês depois do seu assassinato, nenhum suspeito está preso.
Fuga – Dia 24 de abril, a Força de Segurança Nacional decidiu deixar o local por que teria descoberto uma emboscada dos madeireiros para matar a líder camponesa Nilcilene Miguel de Lima e a escolta que a protege. A líder rural teve que abandonar sua casa e sua família, levada pela Força de Nacional para um local mantido em sigilo. “A saída da liderança e da polícia fortalece os criminosos. Eles se sentem mais fortes e nós ficamos mais fracos”, lamentou uma trabalhadora rural da região.
Cerca de 800 famílias de lavradores, seringueiros e catadores de castanha do programa Terra Legal ou moradores dos assentamentos Gedeão e o Curuquetê – cujo líder Adelino Ramos foi assassinado em 2001 – seguem ameaçadas em seus lotes, junto com a floresta, vítimas da retirada ilegal de madeira, da grilagem de terras e da ausência do Estado brasileiro.
Expulsão – Na Boca do Acre, duas casas de extrativistas foram queimadas na última semana de abril. 105 famílias foram expulsas por 40 policiais e 40 jagunços contratados pela suposta proprietária dos 5.202 hectares do Seringal Macapá, reivindicados com o título de posse de outra área, o Seringal Granada. “Saímos de lá só com a roupa do corpo. Durante sete meses, as crianças choravam de fome e dormíamos no chão, com os cachorros. Isso não é vida prá ninguém”, contou o presidente da associação. Recentemente, os trabalhadores voltaram aos lotes de 50 hectares que ocupam há mais de 7 anos. Os trabalhadores relatam crimes idênticos também nos municípios de Manicoré e Humaitá, onde servidores da Secretaria de Patrimônio da União – SPU – foram ameaçados e não puderam cadastrar os lotes dos lavradores e ribeirinhos, numa demonstração de quanto o Estado precisa ser fortalecido na região.
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Até que enfim serão ouvidos pelo poder público,os moradores da região
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