Toda Quinta o espaço para falar de "Família" começamos hoje e espero que esses ensinamentos aqui postados sejam de grande valia para voce leitor e sua família
DE JOSUÉ GOLÇALVES
O problema do casamento são as diferenças de expectativas: a mulher acha que o homem vai mudar após o casamento, enquanto que o homem acha que a mulher não vai mudar após o casamento. Anônimo
Estamos trabalhando duro para escrever uma história à prova de divórcio. É o objetivo de todos nós. Para isso, é preciso compreender as dinâmicas de envolvem a união entre um homem e uma mulher. A vida a dois é diferente da vida de solteiro. Quem demora em compreender isto, demora a fazer os ajustes necessários e enfrenta problemas que poderiam ser facilmente evitados.
As mudanças radicais movidas pelo casamento exigem humildade e serenidade para que o período de transição seja frutífero e prazeroso. Quem não está disposto a se submeter de modo suficientemente humilde para aceitar essas mudanças não deve se arriscar a um casamento.
De maneira ampla, quero listar e tecer uns breves comentários sobre quais são as principais mudanças que todo casal deve enfrentar.
Primeira mudança: Deixar o útero do lar dos pais para nascer como marido e esposa em um novo lar.
Toda separação, seja quel for sua natureza, implica dor. A separação envolve o rompimento de laços afetivos intensos, confortos e carinhos agradáveis, a perda da proteção e a consequente superexposição repentina. Estou sendo econômico nas implicações, mas isso tudo está implícito no processo de constituição de um novo lar. O “deixar” o útero do lar dos pais exige paciência, compreensão, uma disposição vigorosa. Do contrário, será um parto abortivo: a pessoa nem deixa a casa dos pais nem nasce como marido ou esposa no outro lar.
“Deixar” implica, portanto, dor − tanto para quem sai, como para os que ficam. No entanto, é necessário haver essa mudança. E aqui eu invoco, novamente, as palavras de Jesus que sustentam a minha afirmação sobre essa primeira mudança:
Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne. (Mateus 19.5)
Esse “deixar o útero do lar” é traumático, repito, pois uma vez que o novo pacto é indissolúvel aos olhos de Deus, não devemos esperar retorno. Aliás, a bem da verdade, é uma grande distorção da realidade imaginar que, casando-se, alguém perderá a família de origem. Não estou me contradizendo. Explico.
Há moças e rapazes que temem não poderem mais usufruir as regalias da casa dos pais. No entanto, é preciso separar bem as coisas. Quando nos casamos, nossos pais não se tornam nossos inimigos. Nossos principais laços relacionais estavam tecidos com a casa paterna, porém, uma vez casados, fazemos um novo nó.
Quando falo nestes laços principais, penso naquilo que diz respeito à responsabilidade, maturidade e inclinação do novo casal. Eles não devem contar com a intromissão dos pais na solução dos seus problemas: rompem com a família no sentido de que, de agora em diante, é nova vida, novo lar. No entanto, o carinho, o afeto, a atenção de seus pais estarão sempre à disposição. Apenas peço atenção a que saibamos separar as coisas.
Para ter um exemplo de como isso é verdadeiro, veja as mães já maduras. Quando suas filhas se casam, elas dizem que “ganharam um novo filho”, ou as mães dos rapazes costumam dizer que “ganharam uma nova filha”. Por quê? Porque elas sabem que a responsabilidade, a maturidade frente aos problemas, o planejamento e tudo o mais agora depende do novo casal, mas nem por isso elas deixam de ser mães!
Um conselho, portanto, para os novos casais: saibam separar as coisas sem separar as pessoas.
Segunda mudança: Assumir a família do outro como parte da nova história que escreverão.
Penso que todo marido deveria dizer para a futura esposa algo assim:
A tua família será a minha família. Os teus irmãos serão os meus irmãos. Os teus pais serão os meus pais.
Esta frase eu parafraseei da resposta de Rute para Noemi (Rute 1.16). Penso que não pode ser diferente na nossa experiência. O casamento necessariamente aproxima duas famílias inteiras, com tudo o que elas têm a acrescentar (quer coisas boas, quer coisas ruins!). Casou? Leve o pacote todo.
E por que eu penso assim? Porque não existe “ex-mãe”, não existe “ex-pai”, não existe “ex-irmão”. Uma vez pai, mãe ou irmão, para sempre pai, mãe ou irmão. Como disse na Primeira Mudança, separamos as coisas, as responsabilidades, os deveres e obrigações, mas não podemos “desfiliar” uma moça de suas origens nem podemos “desfiliar” um rapaz de seus familiares.
Por isso digo que “Casou? Leva o cunhado, leva a cunhada, leva a sogra, leva o sogro”.
Por mais que se saiba (e deva) separar determinados aspectos, como estou insistindo, sempre haverá o relacionamento familiar presente. Não podemos ser indiferentes às demandas do nosso cônjuge. Imagine se a sua sogra adoecer e o seu cônjuge, naturalmente, entristecer-se e preocupar-se. Não faz sentido você tomar atitudes que demonstrem total falta de sensibilidade. É preciso ocupar-se do caso, oferecer ajuda, dispor-se a participar.
Tenho defendido a sogra e elaborei uma frase para ilustrar isso. Tome nota e reflita sobre ela:
Quem não sabe honrar a sogra cospe no útero que gerou o amor da sua vida.
Dizer para o nosso cônjuge que nós o amamos, mas não queremos os pais dele ou dela por perto, é uma estupidez sem tamanho. Se a minha esposa disser para mim “Meu bem, eu te amo. Mas não suporto sua mãe e não a quero por perto; se ela morrer, não fará falta”, devo imaginar que ela não me ama, porque quem ama, trata com dignidade e respeito as pessoas que são importantes para a pessoa amada.
Deixo uma reflexão para você: um dia você será sogro ou sogra. E como a lei bíblica da semeadura não falha, o que você plantar hoje será colhido por você amanhã. Fica, então, a dica: ame os parentes do grande amor da sua vida e escreva uma verdadeira história de amor!
Terceira mudança: O casamento implica dividir a vida com a pessoa amada.
O nosso terceiro ponto é uma mudança da qual não gostamos, pois por natureza somos egoístas. Temos um pouquinho de narcisismo. Essa terceira mudança incomoda porque o casamento nos impõe dividir a nossa vidazinha particular e exclusiva com outra pessoa, e respeitar as suas diferenças. Temos que dividir a cama. Temos que dividir o quarto. Temos que dividir o banheiro. Temos que dividir o dinheiro. Temos que dividir a mesa. Temos que dividir o tempo.
O casamento implica dividir a vida com outro. Parece um paradoxo: eu deixo pai e mãe para unir-me à pessoa amada e, em seguida, devo dividir as coisas! Não deveria somar? Não, a união divide!
O casamento muda até mesmo a utilização dos pronomes. Casou? Agora não existe mais o pronome possessivo singular “meu”: é usado o coletivo “nosso”.
Já não cabe mais dizer “meu carro”; agora é “nosso carro”.
Já não cabe mais dizer “meu dinheiro”; agora é “nosso dinheiro”.
Já não cabe mais dizer “minha casa”; agora é a “nossa casa”.
Já não cabe mais dizer é o “teu filho”; agora é “nosso filho”.
São “nossas batalhas”, “nossas tristezas”, “nossas alegrias”.
Viu como muda?
Não resista a abrir-se para essa realidade sobre o pacto de casamento. A felicidade na vida a dois depende diretamente da rapidez e da forma de assimilação dessa mudança. Independentemente de quem será seu companheiro ou companheira, terá que aprender a dividir tudo. Essa mudança está presente em todas as uniões e aqueles que encontram dificuldades para admiti-la retardam diversas outras bênçãos, alegrias e o próprio amadurecimento que ela proporciona.
Ajuste-se ao seu cônjuge o quanto antes e aprenda a dividir a carga, o dia a dia, os projetos. Sim! Pois não se divide apenas o que é ruim – as coisas boas estão inclusas e você terá com quem dividir as suas alegrias e vitórias também.
O casamento traz novos componentes: o dever e a responsabilidade. Casar é deixar a independência ou dependência e assumir a interdependência.
Quarta mudança: Devo viver para fazer o outro feliz.
Das muitas mudanças promovidas pelo casamento, esta talvez seja a mais empolgante. O casamento é uma missão, e essa missão é viver para fazer o outro feliz.
Parte do seu projeto de vida, agora, é esforçar-se para que a felicidade seja uma realidade plena na vida de outra pessoa. Isso tem implicações? Sim, implica renúncia da sua parte, implica abrir mão, ceder. E como você pode notar, relaciona-se com as mudanças anteriores. Perceba que é uma cadeia de acontecimentos, de modo que queimar ou pular etapas pode comprometer todo o projeto.
Siga, portanto, as mudanças e as mudanças farão com que os bons resultados sigam você e seu lar.
Vejamos na Bíblia uma base para esta afirmação. Leia o que está em Deuteronômio 24.6:
O homem recém-casado não sairá à guerra. Por um ano ficará livre em sua casa, promovendo felicidade a mulher que tomou.
Memorize isso: “Casar é abraçar a missão de fazer o outro feliz”. O amor real tem essa característica de que poucas pessoas se dão conta: à medida que cuidamos em fazer o próximo feliz, nós é que somos recompensados. Quando estou empenhado em tornar feliz a vida da pessoa amada, esse amor semeado é colhido também por mim.
Quem não vive para fazer o cônjuge feliz, nunca será feliz.
Se você não viver para fazer seu marido feliz ou sua esposa feliz, você nunca saberá o que é felicidade. Isso porque parte do projeto matrimonial previsto por Deus para você não está sendo considerado nem buscado e, consequentemente, não está sendo realizado. Deus quer casais e famílias felizes e por isso incumbiu-nos de cuidar da felicidade uns dos outros. Veja como Paulo explica isso:
O homem que não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, em como agradar ao Senhor. Mas o homem casado preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar sua mulher [...] Tanto a mulher não casada como a virgem preocupam-se com as coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no espírito. Mas a casada preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar seu marido. Estou dizendo isso para o próprio bem de vocês [...]. (1Corintios 7.32-35)
Se um irmão disser para mim: “Eu sou feliz” – mas deixou a esposa chorando, com o coração ressentido por causa da sua indiferença – essa felicidade não é segundo Deus. Devo presumir que tal felicidade é segundo o Diabo, pois só é possível ser feliz de fato quando se faz o outro feliz.
Viver a vida é viver para fazer o outro feliz.
Quinta mudança: Sair da independência para a interdependência.
Quando toco neste ponto vem à minha mente uma chave para entendê-lo em poucas palavras: prestação de contas.
Este é outro ponto no qual tenho insistindo, do mesmo modo como venho “promovendo” a sogra. E faço questão de insistir, pois a repetição gera o hábito e ajuda a fixar aquilo que não está bem fixado em nossa mente e em nosso coração.
Prestar contas é levantar um muro de proteção em torno do coração, da mente, da vida.
O casamento em que não se cultiva o hábito de prestar contas fica vulnerável. E essa vulnerabilidade ocorre diante daquele que é o nosso principal adversário: o Diabo.
Maridos devem prestar contas à esposa. Esposas devem prestar contas ao marido. O casamento implica prestação de contas e penso que todo aquele que se dispõe a unir-se em casamento precisa, irremediavelmente, refletir sobre esta questão, pois ela é fundamental na consolidação de uma união do tipo “uma só carne”.
Ignorar a interdependência é a mesma coisa que não se unir em uma só carne com seu cônjuge e ataca frontalmente o princípio divino para o casamento. Decorre daí que não é possível esperar bons frutos, nem longevidade, nem felicidade, nem bênçãos, pois o Senhor não abençoa nem faz prosperar uma união na qual não há união! Pode soar estranha essa última afirmação, mas a falta de interdependência é o diagnóstico da ausência de união e unidade.
Casais que não praticam a interdependência não se uniram ainda. Em outras palavras, ainda não desfrutam o que chamamos de casamento. Podem ter feito uma bela cerimônia, podem ter gasto dinheiro com uma festa requintada, podem ter feito a viagem dos sonhos, podem ter gasto uma fortuna na montagem e decoração de uma casa ou apartamento, mas não uniram o principal: a sua alma, a sua devoção pela pessoa amada. Eles não se deram por inteiro, pois ainda guardam reservas particulares, escondem nos recônditos do seu coração suas fantasias, nutrem um desejo pelo privado e todas essas coisas são nocivas à saúde de um lar.
Essas são algumas das mudanças pontuais que devem ocorrer em um pacto, mudanças que preparam o ambiente no lar para a composição de uma boa história de amor que valha a pena ser contada aos quatro cantos.
*Josué Gonçalves é terapeuta familiar, pastor sênior do Ministério Família Debaixo da Graça - Assembleias de Deus em Bragança Paulista – SP, bacharel em teologia, com especialização em aconselhamento pastoral e terapia de casais, exerce um ministério específico com famílias desde 1990.
25 de julho de 2013
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário